O conhecimento requer três fatores
Para qualquer tipo de conhecimento, três fatores são necessários:
1) o conhecedor,
2) o objeto de conhecimento,
3) o meio de conhecimento.
Observando as experiências do dia-a-dia, percebemos que esses três fatores têm que estar presentes para que qualquer conhecimento ocorra. Tomemos, por exemplo, o conhecimento de um som:
1) Eu, o conhecedor, tenho que estar presente para ouvir o som;
2) o som, a ser conhecido, deve ocorrer;
3) meus ouvidos, o instrumento, devem ser capazes de ouvir.
Todos esses fatores são claros, mas o terceiro fator requer uma análise O fator número um não apresenta problemas. Está claro, para mim, que se eu não estiver presente lá (ao alcance do som), não o ouvirei. O fator número dois também é óbvio: se o som não ocorrer, não o ouvirei.
O fator número três pode não ser tão simples: se eu estiver ao alcance do som e ele ocorrer realmente (de acordo com decIarações confiáveis de ouvintes próximos) e se, apesar disso, eu não ouvir o som, tenho que examinar a capacidade do meu meio de conhecimento para sons, ou seja, os meus ouvidos.
A mente deve respaldar os órgãos dos sentidos
Quando eu falho em ouvir um determinado som e se todos os testes acústicos mostram que os meus ouvidos são capazes de ouvir aquele som, então o problema deve estar em outro lugar. Onde mais? Eu direi: talvez a minha atenção tenha divagado. lsso significa que minha mente não estava atenta, respaldando meus ouvidos. Eu estava lá; o som ocorreu; meus ouvidos estavam presentes; eles erarn capazes, mas a minha mente não estava por trás de meus ouvidos, capacitando-os a ouvir. Devo, então, acrescentar algo à minha compreensão do que constitui um meio adequado de conhecimento. Para estar adequado para obter conhecimento de um determinado objeto, não somente deve o órgão do sentido - apropriado e apto para determinada percepção - estar disponível (olhos para a visão; ouvidos para o som; Iíngua para o paladar, etc.), mas também uma mente atenta e capaz deve estar por trás daquele órgão. Assim, para o simples conhecimento perceptivo, os órgãos dos sentidos em si não são o pramána, o meio do conhecimento. Os órgãos dos sentidos, em conjunto com a mente, são o pramána. Quando todos os fatores, incluindo a mente, estão presentes, o conhecimento acontece.
A mente deve estar preparada
O conhecimento sempre acontece quando todos os fatores, incluindo uma mente atenta, estão presentes? E se eu estiver buscando o conhecimento de cálculo? Eu encontro um professor de cálculo competente, que é um bom mestre - alguém que tem a habilidade de comunicar o que sabe. Ele me fala sobre cálculo em português, a língua que conheço. Eu reconheço as palavras. Para iIustrar a aula ele escreve números e letras no quadro-negro. Eu conheço o posso identificar os numeros e as letras. Sou fisicamente capaz de ver o que ele escreve no quadro. Sinceramente desejo aprender cálculo. Venho todos os dias. O professor ensina. Eu ouço e olho. Minha mente está atrás dos meus olhos e ouvidos. Mas, ai de mim, o conhecimento do cálculo não me ocorre! Por quê? Minha base de matemática é fraca. De fato, eu não tenho certeza se 7 mais 4 é igual a 9 ou a 12! Está rne faltando o preparo necessário para o estudo de cálculo.
Logo, nós devemos acrescentar algo mais à nossa compreensão do que é um mejo de conhecimento adequado. Já vimos que um meio de conhecimento deve ser apropriado, capaz e ter o respaldo de uma mente atenta. Uma outra qualificação deve ser agora acrescentada: a mente, pelo menos em algumas situações, deve não só ser capaz e atenta, mas também preparada. De modo a estar preparada para o conhecimento de cálculo, um samskára, um certo estudo de matemática deve estar presente. Somente, então, o conhecimento de cálculo pode ser obtido.
Palavras como meio de conhecimento
Para o simples conhecimento perceptivo, pode não ser necessária nenhuma preparação especial, além de, talvez, a atenção da mente. Quando o objeto está presente, os olhos estão abertos, a mente está por detrás dos olhos, o objeto é visto e esse conhecimento visual do objeto é obtido sem nenhuma preparação especial. Entretanto, para um conhecimento como o cálculo, que é obtido não apenas pela simples percepção, mas através das palavras usadas por um professor competente, desdobrando um certo raciocínio, alguma preparação sempre é necessária. Para que as palavras do professor funcionem como um pramána, um meio válido de conhecimento, as palavras devem ser apropriadamente utilizadas pelo professor e a mente do aIuno deve estar pronta.
Vedánta é um pramána, um sabda pramána, isto é, um meio verbal de conhecimento. Vedánta é um pramána na forma de palavras e frases que, utilizadas por um prolessor competente, tem a intenção de lançar luz no Ser. As palavras podem levar a conhecimento direto ou indireto, dependendo do objeto envolvido. Se o objeto está fora da minha área de experiência, as palavras apenas podem gerar conhecimento indireto. Se o objeto está dentro da minha área de experiência, as palavras levam ao conhecimento direto. Vedánta é sobre mim, sobre aquele que está indicado pela primeira pessoa do singular, "eu". Eu estou sempre disponível para mim mesmo, logo as palavras podem dar conhecimento direto de mim mesmo.
Para as palavras de qualquer ensinamento transmitirem conhecimento, devem ser compreendidas pelos alunos da mesma maneira que pelo professor. Definições gerais não são suficientes, porque carregam implicitamente, na sua generalidade, interpretações subjetivas. Para que as palavras sirvam como um meio de conhecimento, seu significado exato deve ser transmitido e os possíveis significados não-desejados devem ser negados. Como um professor consegue isso? Ele estabelece um contexto no qual outros possíveis significados das palavras são excluídos. Quando um professor falha em criar um contexto para as palavras que usa, ele não consegue transmitir conhecimento através delas. As palavras, então, tornam-se somente uma outra forma de condicionamento. Isso acontece comumente quando o assunto é o Ser. Freqüentemente, num ensinamento que tenta revelar o Ser, palavras tais como "infinito", "Brahman" e "eterno" são usadas, mas não são desdobradas. Tais palavras assim usadas somente se tornam um novo condicionamento, acrescentando mais confusão e falta de clareza à mente do estudante. Entretanto, mesmo quando você tem ambos, um professor de Vedánta quaIificado, que aprendeu a metodologia do ensino, que sabe como desdobrar o significado preciso das palavras usadas, e um estudante dedicado, que está buscando o conhecimento do Ser, o conhecimento, que é Vedánta, acontecerá somente se a mente do estudante estiver preparada. Para quem tem a mente despreparada, Vedánta é como cálculo para a pessoa que ainda está estudando tabuada. Isso não significa que cálculo ou Vedánta não possam ser compreendidos. Simplesmente significa que a preparação da mente é necessária. A mente é o lugar onde o conhecimento acontece. Se o conhecimento não ocorre quando ambos, o objeto do conhecimento e um meio de conhecimento apropriado, estão disponíveis para quem deseja o conhecimento, então deve existir algum obstáculo responsável pela não ocorrência do conhecimento. O único obstáculo possível é a falta de preparação da mente.
Jñánam prepara a mente para Vedánta
O que prepara a mente para o conhecimento que é Vedánta? Práticas como pránáyámas (exercícios respiratórios) e ásanas(posturas) podem ser úteis para aquietar uma mente agitada, mas não preparam a mente para o autoconhecimento.
Jñánam, de acordo com a Gítá, prepara a mente para Vedánta. Esses valores apresentados na Gítá podem ser definidos como um estado de mente que reflete certos valores universais e atitudes éticas. Outras práticas podem trazer uma quietude mental na qual os valores necessários são mais profundamente estabelecidos, mas somente a descoberta e assimilação dos valores por eles mesmos constituem a preparação da mente. Somente os valores preparam a mente. Tudo o mais é secundário. Por isso, a Gítá eleva os valores apropriados à categoria de conhecimento, denominando-os jñánam, que em sânscrito significa conhecimento. Entretanto, o jñánam dos valores e o do autoconhecimento não devem ser confundidos. Eles não são a mesma coisa. O jñánam dos valores é a preparação para a conquista do autoconhecimento. Isso não quer dizer que o conhecimento do Ser ocorrerá se a mente tiver os valores apropriados, mas que poderá ocorrer. Sem os valores apropriados, não ocorrerá.
Em síntese:
- valores apropriados presentes, autoconhecimento pode ou não estar presente;
- valores apropriados presentes, autoconhecimento pode ser obtido;
- valores apropriados ausentes, autoconhecimento não pode ser obtido.
retirado do site Vidya Mandir
2 comentários
Estou gostando muito de ler livros deste autor, quero muito ser tocada pelas palavras do Vedanta, mas ,assim como diz Swami Dayananda preciso de preparação anterior. Sou professora de Matematca, porisso entendi perfeitamente o exemplo que ele citou .Pratico yogae sinto uma paz muito gratificante nas aulas, além de que quando abraço meu amável professor, ele me transfere um energia muito boa. O nome dele é Lucas, de Limeira Sp. Tb tenho adquirido livros do autor Swami. Meu principal problema é que não sou disciplinada e organizada. Tenho um deficit de atenção grande e não sei estabelecer minhas prioridades. Obrigada pela atenção.
Estou gostando muito de ler livros deste autor, quero muito ser tocada pelas palavras do Vedanta, mas ,assim como diz Swami Dayananda preciso de prepararação anterior. Sou professora de Matematca, por isso entendi perfeitamente o exemplo que ele citou .Pratico yogae sinto uma paz muito gratificante nas aulas, além de que quando recebo um forte abraço do meu amável professor, ele me transfere uma energia muito boa. O nome dele é Lucas, de Limeira Sp. Tb tenho adquirido livros do autor Swami. Meu principal problema é que não sou disciplinada e organizada. Tenho um deficit de atenção grande e não sei estabelecer minhas prioridades. Obrigada pela atenção.